Criticada no começo por ser um incentivo a isso e àquilo, a romântica Maria Ísis (Marina Ruy Barbosa) já não desfila mais de lingerie pela garçoniere de Jose Alfredo (Alexandre Nero) emImpério (Globo, 21h15).
Na estrutura monárquica da trama de Aguinaldo Silva – na qual a joalheria Império seria um reino comandado pelo “comendador”, em meio a conspiradores, vassalos, bobos da corte e criados fofoqueiros –, a personagem primeiro ajudou a compor a figura do homem forte e tirano que sente no direito de prender uma jovem inexperiente numa torre, para estar com ela quando bem entender. É a própria cortesã predileta, que irrita a rainha má, Maria Marta (Lilia Cabral), numa onda meio medieval. Mas já faz uns dias que a moça iniciou uma mudança e, desde o capítulo de ontem (segunda, 6), está oficialmente num triângulo amoroso com João Lucas (Daniel Rocha), filho do seu “protetor”. Agora, começa uma disputa pela bela lolita ruiva. Dizem que ela até vai começar a trabalhar, o que será um bom cala-boca aos que andaram criticando o autor por incentivo à pedofilia.
Atriz e personagem são adultas e Maria Isis está ali por livre e espontânea vontade, como teúda e manteúda sinceramente apaixonada. Mas a citação à Dolores de Nabokov, a garota de 13 anos que se envolve com um cinquentão no clássico Lolita (1955) é óbvia – ainda que ninfeta de novela tenha de ser maior de idade. E, afinal, como o livro ensina, uma lolita não é feita apenas de camisolinhas e unhas do pé mal-pintadas de vermelho. A personagem se forma e acontece por meio do seu Humbert Humbert. Por isso, Isis dá um tempero ficcional interessante ao comendador. O que ele fará quando perceber que sua boneca começou a pensar? Talvez enlouqueça, como boa parte dos “tios” das novelas que sabem bem o que é conviver com esse tipo sedutor de personagem. Veja outras seis, das mais marcantes:
Lolita, Anita. Manoel Carlos adaptou com grande sucesso em 2001 o livro Presença de Anita, de Mário Donato, numa minissérie homônima. Mel Lisboa viveu a jovem que enlouquecia Nando (José Mayer) um quarentão em busca de tranquilidade numa cidadezinha do interior de São Paulo.
Em 1999, numa bela e soturna produção da Casa de Cinema de Porto Alegre de Jorge Furtado para a Globo, Ana Paula Tabalipa viveu uma garota que virava a vida de Ramiro (Paulo Betti), amigo de seus pais, pelo avesso na minissérieLuna Caliente.
Um ano antes da marcante Presença de Anita, José Mayer deu vida a outro atormentado por uma bela jovem demais: Pedro, grosseirão charmoso por quem a ninfeta caipira Íris (Deborah Secco) era obcecada em Laços de Família, também de Manoel Carlos.
A polêmica envolvendo Maria Isis não é nova. Casais como o que ela forma com José Alfredo são em geral criticados pela parte mais conservadora dos telespectadores, como aconteceu com a ninfeta vingativa Mariana (Adriana Esteves) e José Inocêncio (Antonio Fagundes) em Renascer, que Benedito Ruy Barbosa escreveu em (1993).
Lurdinha
Em América, novela que Glória Perez escreveu em 2005, o “tio Glauco” de Edson Celulari manteve romance divertido com Lurdinha (Cléo Pires), amiga de sua filha.
Engraçadinha
Na minissérie de 1995, baseada emEngraçadinha: seus amores e seus pecadosde Nelson Rodrigues, a lolita-título interpretada por Alessandra Negrini atormentava o suposto primo, Silvio (Ângelo Antonio), que se matava ao descobrir que era sua irmã.