USO MASSIVO DAS REDES SOCIAIS DEVE MARCAR ELEIÇÃO EM 2012

A repercussão no Twitter da hastag “ACMNetoNunca”, segundo tópico mais comentado do microblog em Salvador no mesmo momento em que o candidato do DEM oficializava a sua candidatura à prefeitura, em convenção partidária na última segunda-feira, 18, indica o potencial do uso das plataformas virtuais na sucessão municipal deste ano. Se os especialistas em mídias digitais consideraram as eleições de 2010 como o pleito do Twitter, este ano a aposta é que todas as mídias sociais terão igual importância.
Hoje, no Brasil, 81,3 milhões de pessoas têm acesso à internet, sendo que 90% desse universo faz parte de alguma mídia social. Com tanta gente conectada, a comunicação na rede, ilimitada, sem barreiras, com uma capacidade inimaginável de replicação, aliada à disponibilização, compartilhamento e troca de informações que, em segundos, chegam às telas dos computadores e aos celulares, é uma ferramenta considerada tão relevante para as campanhas que, em termos de importância no ranking dos meios de comunicação, fica atrás apenas da TV, segundo o professor de pós graduação em marketing digital, André Telles. O retorno que as redes dão, seja por conseguir novos seguidores, ou por ser uma plataforma com resposta imediata do eleitorado pela possibilidade de interatividade, tem papel fundamental na estratégia de campanha. Contudo, as campanhas na internet não fazem milagres. O analista politico Jorge Almeida lembra que “não tem mídia e marketing politico que funcionem se o candidato não tem base politica real na sociedade”.

Apesar de todo o poder de disseminação, o uso desse meio pelas equipes das campanhas ainda é considerado amador, segundo Telles. Prova disso, são as poucas ações no Youtube e os perfis dos candidatos no Facebook, que permitem apenas o agrupamento de cinco mil amigos. “O perfil é um recurso limitado. O ideal, em se tratando de pessoa pública ou instituição, é que se crie uma fanpage”.
Estratégias – Dos candidatos que já oficializaram a candidatura àqueles que ainda são pré-candidatos, todos terão equipes destacadas somente para cuidar dos assuntos divulgados na rede. ACM Neto e Alice Portugal (já candidatos), Nelson Pelegrino, Hamilton Assis e Mário Kertsz possuem perfis no Facebook, contas no Twitter e sites ou hotsites. 
A assessoria de imprensa de Pelegrino informou que, atualmente, sete pessoas se dedicam aos trabalhos nas plataformas digitais. O número de profissionais aumentará com o início da campanha, e até vinte profissionais devem alimentar as redes durante os cerca de três meses de trabalho. A equipe de Kertsz informou que as mídias serão atualizadas em tempo real, diuturnamente, com textos, fotos, vídeos e áudios, assim como a de Neto.
A divulgação virtual é um mecanismo interessante também para aqueles que têm pouco tempo na TV e ainda são pouco conhecidos entre o eleitorado. Hamilton Assis considera uma espécie de via alternativa, já que o postulante disputará a eleição com candidatos cujos nomes são mais conhecidos na esfera de visibilidade pública. “A mídia tradicional acaba dando foco maior a quem tem referência pública mais solidificada. Então, o espaço virtual surge como uma forma de divulgarmos nossas propostas”, argumenta o pré-candidato pelo Psol.
Os sites, cada vez mais vêm assumindo as funções de mobilizar as campanhas, funcionando como uma espécie de comitê virtual e assumindo funções de materializar as ações, analisa o professor de ciências políticas da Universidade Federal da Bahia, Cloves Oliveira. “Antes, toda carga de recurso era destinada para a TV. Agora, a internet é vista como um instrumento complementar e muito importante”, destaca.

Espaço de embate – Alguns dos postulantes, inclusive, já têm usado a rede para comunicar alianças com os partidos e as datas de convenções partidárias, a exemplo de ACM Neto e Nelson Pelegrino, que possuem 32.203 e 3.285 seguidores no Twitter, respectivamente. O petista já convidou os militantes, por meio do Twitter, para o lançamento de sua candidatura, e ACM Neto comentou sobre o apoio do PTN.

As redes também já têm sido usadas para críticas, de maneira ainda velada, aos opositores, seja por meio de posts próprios ou da replicação de comentários de seguidores. O embate entre os candidatos, no entanto, deve começar a esquentar com a autorização do uso das redes pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que definiu a data de 7 de julho para a liberação das propagandas no universo virtual.

“É uma ferramenta que assumiu uma função de trincheira, local onde os ataques são constantes por ser um espaço privilegiado para o ataque, onde há a construção e desconstrução da imagem dos candidatos”, opina Cloves Oliveira.

Eleitor ativo – E não somente os candidatos entram na briga. Muitos eleitores lançam mão da rede para comunicar e compartilhar suas opiniões sobre a campanha e aspirantes aos cargos; ou mesmo para expor suas opiniões sobre o pleito ou fazer campanha em prol de determinada chapa.

O professor do departamento de ciências políticas da Ufba salienta ainda que a internet possibilita ativismo politico bastante eficiente no sentido de atender às expectativas de militantes e eleitores de emitirem seus pontos de vista. “Isso quebra um pouco a ideia de que temos um eleitorado passivo. Pelo menos, para aquele que se propõe a participar, a internet é um instrumento bastante satisfatório para que emita sua opinião”, salienta o professor, que cita ainda o exemplo da campanha de Marina Silva à presidência da república, em 2010, alavancada pelo ativismo na internet.

Para que o eleitor tenha uma participação mais efetiva, através dos sites, é necessário que os portais ofereçam uma interface de interatividade intensa, não somente para disseminar informações, como para capturar também, segundo a professora de comunicação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Alessandra Alder, especialista em política e comunicação.

“É preciso fazer com que o segmento do eleitorado assuma de forma espontânea o acompanhamento da campanha”, acrescenta Alder. A especialisra lembra que o eleitor da internet se torna estratégico para os candidatos porque têm o hábito de fazer circular a informação, enquanto o telespectador é mais passivo nesse sentido. “Aquele que acompanha a campanha pela TV não tem a possibilidade técnica e nem a cultura de disseminação de informação, comum às pessoas que fazem uso dos meios digitais”. (ATarde)