Nas eleições de 2010, o então candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, saiu das urnas com 10,7 milhões de votos a menos que Dilma Rousseff na região Nordeste do Brasil, que reúne nove estados e um quarto dos votos do país (38,2 milhões, ou 26,8% do eleitorado). Para analistas e políticos, a vantagem da petista nessa faixa do território, que tem população equivalente à da Itália e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) comparável ao de países africanos, foi decisiva para o resultado. Quatro anos depois, o PSDB ainda se prepara – e só agora avalia que com certo atraso – para lançar um plano destinado a tentar reverter a diferença. A tarefa não será fácil. Mas, neste final de semana, Aécio Neves (PSDB) pretende intensificar as agendas na região anunciando uma cartilha, batizada de “Nordeste Forte”, com 45 “ações estratégicas” nas áreas de infraestrutura, combate à pobreza, qualidade de vida, segurança pública, educação e ciência e tecnologia.
Na linha de frente, o tucano prometerá aumentar o piso do programa Bolsa Família, dos atuais 77 reais para no mínimo 83 reais mensais e destinar pelo menos 22 bilhões de reais até 2018 – quando terminaria seu mandato, se eleito – da parcela que a União injeta no Fundeb (fundo destinado à educação básica). O foco no Bolsa Família não é por acaso: o poder eleitoral do cartão já foi demonstrado em disputas anteriores e sua capilaridade só cresce. É de Aécio a proposta para transformar o programa em política permanente de Estado. Mas o terrorismo eleitoral que se espalha a cada quatro anos pela militância petista e seus agregados, desta vez condicionando a reeleição Dilma ao fim do programa, é uma realidade nos rincões do país.
Aécio vai lançar sua carta de compromissos para o Nordeste brasileiro neste sábado, em Salvador (BA). “O programa de desenvolvimento do Nordeste terá metas para serem cumpridas em quatro anos e, no caso de políticas sociais e de projetos de longo prazo, prevê dez anos para tornar viáveis todas as propostas para a região Nordeste”, explica o secretário de Desenvolvimento de Salvador, Guilherme Bellintani, um dos técnicos que elaborou as propostas da campanha do PSDB.
Com cerca de 60% das cidades mais violentas do país localizadas na região Nordeste, Aécio Neves também vai anunciar neste sábado um conjunto de projetos específicos para segurança pública, como a criação de um centro de inteligência policial e política regional integrada para combater o tráfico de drogas. A meta do candidato é, se eleito, reduzir em 30% das taxas de homicídio na região.
A despeito de o Nordeste ser considerado um colégio eleitoral estratégico para alavancar o candidato tucano, o programa foi gestado já com a campanha em curso. “Queremos conquistar votos e partiremos com força total. Há um esforço concentrado para tornar Aécio conhecido no Nordeste”, diz o senador José Agripino, coordenador da campanha do tucano.
Aécio também preparou discurso para se apresentar como “garantidor de direitos adquiridos” e vai prometer potencializar programas desenvolvidos por petistas, como o Minha Casa Minha Vida, o programa Universidade para Todos (ProUni) e o Ciência Sem Fronteiras. “Todos os programas exitosos vão continuar e ser aprimorados. Vamos tratar de todas essas carências de forma transversal. O que se faz hoje no país pela população de baixa renda é muito pouco”, diz Aécio.
A escolha de Salvador para o lançamento do programa Nordeste Forte foi estrategicamente pensada. Além de a Bahia ser o quarto maior colégio eleitoral do país (10 milhões de votos), a costura de alianças para o governo estadual, que reuniu desafetos e colocou lado a lado DEM, PSDB e PMDB, é considerada uma das mais eficazes negociações de Aécio no xadrez eleitoral deste ano. José Serra saiu das urnas com mais de 10 milhões de votos de desvantagem para Dilma Rousseff no Nordeste. É quase o eleitorado de uma Bahia inteira.
(Com reportagem de Bruna Fasano, de São Paulo)