CUIDADOS COM A SAÚDE, SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS E MIOMA

Sangramento intenso, cólicas fortes, irregularidade no ciclo menstrual. Esses são sintomas de doenças ginecológicas comuns que, se não forem tratadas, podem acabar em problemas graves.


No último episódio de ‘Mulher: saúde íntima’, o doutor Drauzio Varella explica que doenças são essas, como identificá-las e tratá-las.

“Eu comecei a ter um sangramento muito intenso”, conta a triz Cristiana Oliveira.
“Eu comecei a sentir muitas cólicas insuportáveis”, lembra Ana Paula.
“Ultimamente vem aparecendo bastante pêlo na região do rosto”, relata a Andreza Lima.
As queixas parecem comuns, mas escondem problemas mais sérios.
Problemas ginecológicos como a presença de miomas no útero e a chamada síndrome dos ovários policísticos podem causar alterações hormonais, dificuldade para engravidar e interferir com as emoções, as relações afetivas e até com a vida social da mulher.

Ana Paula vai voltar para a mesa de cirurgia. A primeira vez foi há cinco anos, depois que começou a sofrer cólicas insuportáveis. Mas desta vez o procedimento vai ser diferente do primeiro, que foi uma cirurgia convencional.
“Nós vamos fazer uma minicirurgia, uma cirurgia minimamente invasiva para tratar todo esse seu problema do sangramento”, explica Francisco Cesar Carnevalli, médico radiologista intervencionista.
Ana Paula tem mioma uterino, problema que atinge pelo menos 50% das mulheres em idade reprodutiva.
“Na época, eu não conhecia. Eu achei que era um tumor maligno mesmo”, ela lembra.
“Em primeiro lugar não podemos esquecer que mioma é um tumor sólido de caráter benigno, que acomete as mulheres nas diversas faixas etárias A maioria dessas mulheres não sentem nada, não têm sintoma algum”, afirma Nilo Bozzini, coordenador do setor de miomas uterinos do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Mas por que algumas mulheres não sentem nada, enquanto outras, como Ana Paula, sofrem com dores e sangramento?
O útero é um músculo revestido, forrado, na parte interna, por uma camada fininha, que é o endométrio. É o endométrio que desaba e sangra na menstruação. O mioma é um tumor formado pelo próprio músculo do útero. Por exemplo, se eu tenho um mioma na parte de cima do útero, pequenininho, não causa problema nenhum. Se ele cresce, pode comprimir os órgãos vizinhos. E os miomas, às vezes, chegam a pesar dois, três quilos e até mais. Se eu tenho miomas pequenos no meio da parede, no meio da musculatura uterina, podem ser múltiplos, mas não causam nada. O problema é quando nós temos miomas muito perto do endométrio. Porque aí eles podem romper e provocar sangramento no intervalo das menstruações. O problema ainda é quando nós temos miomas grandes que fecham a cavidade uterina, que não dão passagem para o óvulo fecundado. Esses são miomas que provocam infertilidade.
Foram dois miomas desse tipo, mais grave, que a atriz Cristiana Oliveira teve, dois anos atrás.
“Um sangramento muito intenso. Não só na cor, como na quantidade. E a minha menstruação começou a perdurar, começou a ir a oito, dez, doze dias. Eu tinha uma dor insuportável. E aí procurei a minha ginecologista e ela falou: ‘a gente vai ter que ou tirar esses dois miomas, ou então interromper o teu sangramento’”, ela conta.
É possível interromper o sangramento com anticoncepcionais ou com remédios que bloqueiam a função dos ovários e provocam uma menopausa temporária.
“Acontece que eu não fiz nem uma coisa nem outra”, relata a atriz.
Os miomas, que eram pequenos, foram crescendo. Foi só depois desse susto que Cristiana começou a fazer o tratamento. “Eu tive sangramento ao ponto de eu ter uma hemorragia fortíssima, de ficar ameaçada de fazer uma transfusão de sangue”, lembra.
A atriz passou por uma histeroscopia, procedimento que retira os miomas por via vaginal. Já no caso de Ana Paula, que tem vários miomas na musculatura do útero, um dos métodos indicados é a embolização.
“Nós passamos um cateter minúsculo. Esse tubinho entra por uma artéria na virilha, nós navegamos até o momento que nós posicionamos a ponta desse cateter na artéria uterina, bem dentro do útero, próximo do mioma. O mioma funciona como uma esponja. Ele absorve todo o líquido, no caso o sangue. O objetivo da embolização é obstruir toda essa circulação, exclusivamente no mioma. O mioma vai morrer de fome e, consequentemente, e o útero vai diminuir”, explica o médico.
Em recuperação da cirurgia, Ana Paula está confiante.  “Foi uma ótima escolha. Mesmo porque meu útero está aqui preservado. Futuramente ainda posso ser mãe, então estou muito feliz, bastante contente com o resultado”, ela diz.
A laparoscopia, feita através de pequenas incisões no abdômen, é outro procedimento minimamente invasivo. Mas quando há miomas muito grandes, o ideal é a cirurgia convencional, a laparotomia.
Era o caso de Alessandra, que tinha um mioma de 16 centímetros. Mas o primeiro médico que ela procurou foi pessimista. “Na cirurgia você vai perder seu útero. Chorei que nem uma criança na sala dele. Eu não tinha filho. Meu sonho é ter um filho”, lembra.
Alessandra não se conformava com a perspectiva de ficar estéril aos 28 anos de idade. Ela acabou sendo encaminhada ao Hospital das Clínicas, onde conseguiu retirar o mioma sem comprometer o útero. Sete meses depois, fez um novo exame e o resultado não foi bom.
Surgiu um novo mioma, agora com dez centímetros. “Quando ele viu o exame, eu fiquei já apavorada”, conta.
Alessandra estava grávida e tinha medo de que o mioma pudesse atrapalhar a gestação. “Eu saí chorando do Hospital das Clínicas. Chorei muito”.
Mas a gravidez foi normal. 
Andreza também chegou ao Hospital das Clínicas muito preocupada com a dificuldade para engravidar. “Eu sou casada há dez anos. Nunca preveni para não engravidar e nunca engravidei”, conta.
Ela tem síndrome dos ovários policísticos, distúrbio crônico que atinge até 10% das mulheres em idade reprodutiva. É um dos maiores responsáveis pela infertilidade feminina.
“A minha última menstruação foi no mês de março. Sete meses sem menstruar”, relata.
O óvulo é produzido no ovário, mas não fica jogado lá no meio. Ele é empacotado em um folículo junto com um líquido para garantir a nutrição. Ao redor do 14º dia do ciclo, o folículo rompe e o ovulo cai na trompa, vai ser fecundado ou eliminado na menstruação. Na síndrome dos ovários policísticos, o folículo, no 14º dia não rompe. E começam então a ser acumulados pequenos cistos,  e aí a mulher não menstrua. Passa meses sem conseguir menstruar. De repente um folículo rompe e aí esse óvulo vai embora e ela menstrua naquele mês. Esse acúmulo desses microcistos provoca alterações hormonais e essas alterações hormonais é que caracterizam a síndrome dos ovários policísticos.
Surgem problemas desagradáveis, como pêlos no corpo. “Incomoda bastante porque é em locais não são normais”, diz Andreza.
A acne é outra consequência das alterações hormonais. “Ela vem com o aspecto inflamado. E ela toma todo o meu rosto”, conta.
Thainan também sofre com as espinhas. Ela enfrenta os sintomas da síndrome desde a primeira menstruação
O tratamento é feito com anticoncepcionais.  Ele é importante, porque a síndrome pode causar outros problemas, até mais graves.


“Essas mulheres têm risco de sete a dez vezes de ter diabetes mais cedo do que as mulheres que não têm a doença. Se elas não forem tratadas de maneira adequada, elas têm de três a quatro vezes maior chance de ter câncer de endométrio no futuro”, alerta o médico.

Foi há dois anos, quando se casou, que Thainan passou a conviver com o drama da infertilidade. Depois de um ano de tentativas frustradas, ela resolveu fazer um tratamento com remédios que induzem a ovulação.
“A gente fica naquela ansiedade de obter o resultado diretamente no primeiro mês. E comigo não aconteceu, então a gente já começou a ficar preocupado com isso”, ela lembra.
Mas no mês seguinte a menstruação atrasou. Os exames comprovaram: Thainan estava grávida.
“Na ultra não apareceu nada. Daí eu já fiquei desesperada. Falei: ‘Meu Deus, estou grávida e nem na ultrassom aparece’. Depois de uma semana, mais ou menos, eu tive um sangramento muito forte e, realmente, perdi aquele bebê. Eu cheguei a me trancar em casa, fechar a janela, ficar no escuro porque a gente fica, realmente, muito triste”.
Mas estava para começar  um novo capítulo na vida de Thainan. A síndrome dos ovários policísticos provoca um desequilíbrio hormonal que favorece a obesidade. A obesidade, por sua vez, agrava o quadro hormonal, criando um ciclo vicioso. Perder peso através da alimentação saudável e da atividade física ajuda a corrigir o desequilíbrio. É um verdadeiro remédio para tratar as manifestações da síndrome.
Thainan é prova disso. Para se curar da depressão, ela resolveu mudar radicalmente.
“Depois disso, eu falei: ‘agora eu vou viver diferente’. Comecei a emagrecer fazendo exercício físico e comendo direitinho, sem excessos. Em três meses, mais ou menos, eu perdi sete quilos. E aí, para minha surpresa, minha menstruação não veio. Mas menstruação não vir, para mim, é muito normal. Mas aí eu comecei a sentir uns sintomas diferentes. Seios muito inchados, doloridos e, assim, começou a me dar enjoo”, relata.
Os novos hábitos acabaram funcionando melhor do que os remédios.
“Hoje eu já estou com 13 semanas, já vou fazer 14. Eu estava esperando esse momento. Falei: ‘só quero contar depois de três meses’. Eu vou até aproveitar isso para falar para o meu pai, para minha família, para minha irmã, minha avó, que vai chegar um novo membro na família ano que vem”.
No dia da segunda ultrassonografia, a expectativa era para saber o sexo do bebê. O médico revelou ao casal que vem um menino por aí.