DE VIBRADOR LÍQUIDO A PERFUME SÓLIDO, INDÚSTRIA DO SEXO FATURA ALTO.

Nada de funções sexuais. O primeiro vibrador da história foi fabricado para tratar um problema de saúde. Criado em 1869, ele foi batizado de The Manipulator pelo seu inventor, o médico norte-americano George Taylor. O produto tratava a histeria feminina, uma doença psíquica. Durante o século XIX o tratamento para a enfermidade era basicamente a massagem na vulva, feita pelo próprio médico. Como algumas mulheres precisavam passar horas sendo massageadas, foi necessário criar um aparelho que auxiliasse os doutores, e assim surgiu o primeiro vibrador.
Só a partir de 1920 as mulheres começaram a utilizar o produto com finalidade erótica e buscarem mais que massagem. Os novos usos forçaram a indústria a desenvolver produtos voltados para atender as fantasias sexuais femininas. Em pouco mais de 90 anos o “brinquedinho” ganhou formatos, cores e até sabores variados. A versão mais moderna de um vibrador encontrada no mercado é líquida e beijável. Além de aquecer a pele e ativar a circulação, a loção provoca pequenos choques que dão a sensação de vibração e pode ser ingerida. Os sabores mais vendidos são menta, cereja e morango.
Mas as inovações do mercado erótico não param por aí. Durante a 21ª Erótika Fair, realizada em março deste ano, a fabricante brasileira Intt lançou o Vagisex. O produto é um hidratante e estimulante sexual feminino, criado para atender as necessidades das mulheres acima de 50 anos, ou que já chegaram à menopausa. Ele pode ser usado diariamente para hidratar a região íntima ou na hora do sexo, como lubrificante. “É uma tendência a criação de acessórios para essas mulheres que precisam de uma vibração ou lubrificação maior, que têm menos sensibilidade clitorial ou mesmo que sofrem com algum tipo de problema específico como vaginismo”, complementa a presidente da Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico (Abeme), Paula Aguiar. 
Distribuidora Hot Sul Bahia/Foto: Florisvaldo Almeida


O Brasil vem se especializando na criação de novos produtos eróticos. Por exemplo, a fábrica Sexy Fantasy, de propriedade de Tiago Mosena, investe cerca de 10% do seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Eles contam com 3 pesquisadores que cursam Design e Desenvolvimento de Produtos e, são encarregados da procura de matérias-primas e dos testes. Além disso, Mosena destacou, para a reportagem do Trabalho Com Sexo, a importância de se estar atualizado com as novidades, inclusive no mercado estrangeiro. “Eu viajo uma vez por ano à China para trazer ideias para cá”, comenta. 
A opinião do público consumidor também é levada em consideração durante a produção de novos itens. “Toda a pesquisa se baseia no público que mais consome, que é o feminino. Então quando vamos produzir, nos preocupamos muito com a opinião da mulher: o que elas buscam quando entram num sex shop, que tipo de sensação elas querem”, explica Mosena. A Sexy Fantasy já produziu cerca de dois mil objetos entre cosméticos, confecções e próteses. Entre os lançamentos de destaque para 2014 estão os perfumes sólidos. O produto vem em uma embalagem de 15 gramas, em forma de creme e pode ser utilizado em qualquer parte do corpo.
Criatividade – “A grande diferença entre as fábricas chinesas e as nacionais está relacionada ao mercado de vibração. Eles conseguem desenvolver produtos, que em função da matéria-prima, nós não conseguimos fazer aqui. Porém, no ramo de cosméticos e comestíveis, nós conseguimos ser mais criativos que eles”, afirma o empresário. Ainda de acordo com Paula Aguiar, “Nós não temos muita tecnologia, mas no quesito criatividade e inovação o Brasil é o primeiro”.
O mercado de produtos eróticos no Brasil, tanto comercial, quanto fabril, está em ampla expansão. De acordo com dados da Abeme, apesar de os produtos importados serem muito consumidos, os nacionais estão ganhando cada vez mais espaço, chegando a 47% dos itens vendidos nos sex shops. O setor movimenta mais de R$ 800 milhões por ano e emprega mais de 125 mil pessoas, sendo que a maioria delas são mulheres.  
Ilustração: Pollyana Silva
Ainda segundo a Abeme, em 2012 foram comercializados 8,5 milhões de produtos por mês no país, o que equivale a 102 milhões de itens no mesmo ano. A maior fabricante brasileira desse gênero vendeu mais de 3,5 milhões de itens por mês, totalizando 42 milhões de artigos. A quantidade de estabelecimentos comerciais no Brasil já ultrapassa os 11 milhões. De acordo com a Associação, esse crescimento se deve ao trabalho educativo feito pela própria instituição e pelos grandes empresários do ramo no sentido de mostrar à população a importância de se utilizar os acessórios eróticos para melhorar o relacionamento.
De acordo com a presidente da Abeme, Paula Aguiar, em 2013 a Bahia foi o estado que mais vendeu no nordeste, e já é o campeão de comercializações há um bom tempo retendo cerca de 34% das vendas na região. Entre 2009 e 2011, o estado migrou de 14% para 17% do consumo nacional, cerca de R$ 136 milhões. “Em segundo lugar está o Ceará e na sequência vem Pernambuco. Mas a Bahia está bem à frente desses outros estados”, afirma.
Meiriane Nunez, dona da distribuidora B2 Moda Íntima e Sex shop, situada em Feira de Santana, por exemplo, vende cerca de 2 mil produtos mensalmente e tem um faturamento mensal de cerca de 106 mil reais. “Eu compro os produtos e revendo com uma margem de lucro de até 120% para o consumidor do varejo. No atacado chegamos a dar descontos de até 40% se o pagamento for à vista. Mas, nosso forte mesmo é o atacado”, explica a empresária. 
Apesar de ser o estado nordestino que mais consome produtos eróticos, a Bahia não possui fábricas. As distribuidoras localizadas no estado compram os objetos principalmente das regiões Sul e Sudeste. Florisvaldo Alberto dos Santos é dono da distribuidora Hot Sul Bahia, que funciona em Itabuna e distribui produtos para 30 cidades baianas. Ele comercializa cerca de 200 variedades e chega a vender por volta dede 1milhão de produtos por mês. O mais vendido é o gel comestível. Os consumidores estão dispostos a pagar caro para apimentar a relação, em alguns casos os “brinquedinhos” são repassados para os vendedores com aumento de 200%. 
A pesquisa divulgada pela Durex, em fevereiro de 2014, aponta que apenas 7% da população já usou produtos sensuais e eróticos, o que mostra o potencial de crescimento que o ramo pode alcanças. “Isso diz muito sobre o trabalho que a Abeme e os empresários têm à sua frente.Por que 83% da população precisa conhecer os acessórios”, complementa Paula Aguiar.
Vibrador beijável – No hanking dos produtos mais vendidos no país estão os géis para sexo oral, representando 21% das vendas, seguido pelos géis funcionais com 18% e pelos géis, pomadas e loções que facilitam o sexo anal com 11%.Vale salientar que todos esses produtos são criações brasileiras. “O carro-chefe de vendas atualmente na nossa loja é o vibrador líquido beijável. É um gel que dá a sensação de vibração, que agora está sendo fabricado comestível com diversos sabores”, afirma Meiriane Nunes, que já atua no segmento há mais de 12 anos, ao Trabalho Com Sexo.
Em relação aos valores cobrados pelos itens, a empresária informa que “o produto mais barato é o gel comestível, que custa 5 reais. O mais caro que nós temos é o Orgasme, um gel que facilita a chegada da mulher ao orgasmo. Ele custa 70 reais. Já as próteses vibradoras custam de 45 a 60 reais”, informa.
De acordo com ela, há 10 anos havia muito preconceito com a área, pensava-se que era voltada para a prostituição. “Minha família detonava. Hoje as pessoas estão vendo que nós vendemos bem estar, qualidade de vida. Mas, ainda existem pessoas que chegam com vergonha. E eu sinto que aquele consumidor quer comprar mais, porém, infelizmente, adquirir produtos eróticos ainda é um tabu”, finaliza.
Consumo – Lojas físicas, virtuais e as vendas domiciliares, feitas por consultores, são as formas de comercialização mais comuns. Sendo que as duas últimas obtiveram um maior crescimento nos últimos anos, 57% e 18%, respectivamente. Em todos esses tipos de venda as mulheres são as maiores consumidoras, gerando cerca de 90% das vendas no comércio feito por consultores.
Segundo Meiriane Nunes, os meses de maio e junho, por causa do dia dos namorados, são os que registram maior número de vendas. Ela diz ainda que o consumo é estimulado pela categoria médica. “Têm produtos na loja que os próprios médicos, ginecologista, urologistas, recomendam. Principalmente para as mulheres que reclamam muito que não sentem prazer, que não se conhecem”, explica.