EL NIÑO NO OESTE DA ÁFRICA POTENCIALIZA ALTA DO CACAU

om risco de novo déficit na oferta global por conta do fenômeno, expectativa é de que preços sigam firmes no curto prazo
Os preços do cacau, que subiram quase 32% do início do ano até ontem na bolsa de Nova York, e estão nos maiores patamares dos últimos doze anos, devem manter a trajetória de alta no curto prazo. A principal razão para esse cenário, segundo analistas, é o esperado efeito do El Niño sobre as plantações em países do oeste da África, região que responde por 70% da oferta global.

 

A produção no mundo caminha para a segunda temporada seguida com déficit, estimado em 142 mil toneladas pela Organização Internacional do Cacau (ICCO) na temporada 2022/23
Segundo Leonardo Rossetti, analista de inteligência de mercado da StoneX , a demanda sustentada por produtos feitos a partir do cacau, como o chocolate, desde a pandemia explica o déficit. O consumo segue firme a despeito das pressões inflacionárias em grandes consumidores, como Estados Unidos e Europa.

 

Ele lembra ainda que doenças em lavouras de grandes produtores também afetam a disponibilidade. Em Gana, segundo maior produtor do mundo, os fungos reduziram a oferta em 30% na safra 2021/22, o que pesou para o déficit mundial de 225 mil toneladas naquele ciclo.

Agora, novamente existe a possibilidade de a demanda superar a oferta na safra 2023/24, que se inicia em outubro. Isso porque o El Nino deve provocar seca nas principais regiões produtoras da África, impactando os cacaueiros.

 

“Mesmo que o efeito do El Niño seja sutil no oeste africano, algum impacto na produção pode ser esperado. Além disso, o mês de junho na Costa do Marfim [maior produtor de cacau] foi o mais chuvoso em dez anos, o que dificulta os tratos culturais para o novo ciclo”, observa Rossetti. Nesse cenário, ele não vê perspectiva de queda nos preços internacionais pelo menos até o início da nova safra, em outubro.

“O volume de produção é que vai ditar o rumo das cotações. O primeiro mês do ciclo 2023/24 é sempre o mais intenso em termos de entregas, e se elas crescerem na Costa do Marfim em relação à temporada passada, podemos ver indícios de queda para os contratos futuros em Nova York”, diz.
A valorização da cacau no mercado externo não deve trazer impactos para a indústria do Brasil, avalia Anna Paula Losi, presidente executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). “O Brasil importa de 30 mil a 60 mil toneladas principalmente para atender a indústria. Tudo que é adquirido é processado e exportado novamente”, destaca a dirigente da AIPC, que tem entre seus associados empresas como Cargill, Olam Food Ingredients (OFI) e Barry Callebaut.

Segundo dados da entidade, as importações da amêndoa somaram 8,4 mil toneladas no segundo trimestre deste ano, acima das pouco mais de 7 mil adquiridas no mesmo período de 2022.

Demanda de cacau no Brasil e no mundo

Se no campo da oferta ainda há desafios, do lado da demanda, as perspectivas são positivas, diz a dirigente da AIPC. “Temos associados que já anunciaram aumento na capacidade de produção. Neste momento, não vejo queda da demanda, muito pelo contrário. Os índices econômicos estão melhorando nos últimos meses, e a tendência de consumo ou permanece ou pode até aumentar”, afirma.

Questionada se a valorização do cacau pode ter reflexos nos preços do chocolate no Brasil, a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoins e Balas (Abicab), disse que não faz previsões de preços. A entidade apenas observou que, além do cacau, o preço do chocolate é impactado também pelo açúcar e pelo leite, assim como pela variação do dólar, inflação, distribuição e impostos.

No exterior, no entanto, a demanda começa a dar sinais de arrefecimento. Segundo dados das grandes do setor no mundo, compilados pela StoneX, no primeiro semestre deste ano, apenas as vendas da Lindt tiveram resultado positivo em relação ao mesmo período de 2022, ainda assim, um crescimento tímido, de 0,8%. As vendas da Hershey e da Barry Callebaut caíram 2,7%, enquanto na Mondelez houve estagnação.

Fonte:Globo Rural