Após uma reportagem do jornal O GLOBO denunciar a construção de uma lanchonete a apenas três palmos de distância de jazigos e ossários no Cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) realizou diligências no local. Os peritos constataram a ocorrência de um crime ambiental, segundo informou o delegado Wellington Pereira Vieira, titular da especializada. Como resultado, a obra foi imediatamente paralisada no início da tarde desta quarta-feira (13). Uma funcionária responsável da RioPax, empresa que administra o cemitério, foi conduzida à delegacia.
De acordo com o delegado, além da falta de licença ambiental para a construção, também foi constatada a supressão vegetal, ou seja, o corte de árvores para a instalação da estrutura. Segundo a lei, essa infração pode acarretar em uma pena de até um ano de prisão, além do pagamento de multa.
Na lanchonete, que ainda não teve suas lâmpadas instaladas, foram encontrados eletrodomésticos encaixotados, como um freezer, um frigobar e dois minifornos. Na entrada, latas de tinta e de massa corrida evidenciavam uma obra em andamento. Um balde contendo tinta derramada também estava apoiado na parede.
A lanchonete foi construída em frente a seis ossários, exigindo que visitantes se espremam em um espaço estreito de apenas três palmos, ou aproximadamente dois passos de distância entre a parede e os sepulcros. Anteriormente, no mesmo espaço, havia uma mesa onde os corpos eram colocados antes do sepultamento, como mostram imagens de 2015.
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, determinou que uma lanchonete instalada a menos de um metro de ossuários e jazigos seja derrubada no Cemitério São João Batista. Em publicação no Twitter, Paes observa que, se em 48 horas o empreendimento não for demolido, o município vai executar a medida.
Na tarde desta quarta-feira, a placa que anunciava a inauguração em breve já não estava mais afixada.
Localizada na via principal do cemitério, em frente à entrada da Rua General Polidoro, a construção da lanchonete chamou a atenção dos visitantes que precisaram passar pelo São João Batista nesta quarta-feira. A interrupção da obra ocorreu após a constatação do crime ambiental e a ação da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente.
Uma delas foi a podóloga Rosângela Coelho Jardim, de 69 anos. Ela disse que comeria na loja se ela fosse inaugurada, apesar de o local escolhido para a sua construção ser inusitado.
“Você come no “podrão” na rua, não é? Acho estranho por conta do lugar, mas o que tem comer um mate com pão de queijo (no cemitério)? — indagou ela, que voltava do velório de um parente.”
Já o radialista Adalberto Ferreira Jr., de 68 anos, brincou com a polêmica: “poderia colocar (também) um pagode, chope, mas acho estranho.”
A Aleia São João Batista, localizada na via principal do cemitério, em frente ao pórtico na Rua General Polidoro, abriga não apenas a polêmica lanchonete, mas também alguns túmulos que conferem ao local o status de “cemitério dos artistas”.
Logo atrás da loja, encontra-se o túmulo do ex-presidente Nilo Peçanha, com seu nome gravado sobre uma cruz, lembrando sua importante contribuição para o país. Continuando pela Aleia, em direção ao Cruzeiro que se encontra no centro, estão sepultados outros nomes ilustres, como o político Luiz Carlos Prestes, conhecido por sua atuação na política brasileira.
Além disso, o cemitério também é lar de personalidades marcantes da música e da aviação. Entre elas está Tom Jobim, renomado músico brasileiro, cujo túmulo atrai visitantes apaixonados pela sua obra. Também repousa ali o “pai da aviação”, uma figura histórica que deixou um legado significativo nesse campo.
Essas figuras notáveis, que encontram sua morada final na Aleia São João Batista, contribuem para a riqueza histórica e cultural do cemitério, que se tornou um local de visitação e homenagem a personalidades que deixaram sua marca no Brasil.