MENOS LÁGRIMAS E MAIS GESTÃO!

(*) Por Ícaro Argolo

A cidade de Santo Antonio de Jesus, no recôncavo baiano, foi, nos últimos dias, palco de demonstração da força popular organizada e consciente. Com a ameaça de encerrar o atendimento pelo SUS no Hospital Maternidade Luis Argollo – HMLA devido à ausência de repasse da administração municipal, conforme já havia discutido nesta coluna, a pressão popular forçou um posicionamento da prefeitura resultando no convênio de subvenção no valor de R$80.000,00 por mês.

Não mais falarei da importância territorial do HMLA, nem falarei a respeito da qualidade do atendimento feito pelo SUS nesta casa de saúde. Atenho-me, então, ao fator político e administrativo do que foi encaminhado sobre o tema.

A cidade se mobilizou, o tema passou a ser discutido entre diferentes setores, mas só nas redes sociais ganhou dinâmica e robustez necessárias para incidir na realidade política. A mobilização em rede sistematizada com a repercussão real nas ruas possibilita, concretamente, mensurar até aonde vai o impacto na popularidade de uma gestão. E a campanha #SalveoLuisArgollo cumpriu um papel estratégico na fervura do caldo de insatisfação popular que estava em banho Maria.

Ainda que o resultado quantitativo do ato possa ser algo questionável diante do número de pessoas confirmadas (o que reafirma o lastro de impacto da campanha), o fundamental é compreender que o grau de mobilização não se deu apenas no verdadeiro ato de protesto que ganhou as ruas da cidade, mas sobre tudo na transição de um mero descontentamento que ganhou corpo e voz por uma luta difusa e que coletivizou responsabilidades transformando a discussão local na preocupação em torno do Hospital.

E neste contexto de mobilização e inquietação popular, o mais sensato por parte da gestão municipal seria uma assimilação direta de um problema concreto e buscar solucioná-lo (já que, conforme explicitei em texto anterior, dinheiro para isso não falta!) sem pestanejar ou procrastinar. Infelizmente, não foi o que aconteceu. A gestão pagou para ver, bateu pé firme na retórica de que supostamente nada tinha a ver, reduzindo o problema à mera disputa política e subjulgou seus representados. Erro de tática!

Não fosse apenas isso, poderia haver um grau de compreensão dado protocolo burocrático que com boa vontade poderia ser flexibilizado. O fato é que para além de errar na tática, a gestão municipal errou grosseiramente no método, organizou, estimulou e instrumentalizou ato paralelo ao #SalveoLuisArgollo com o objetivo direto de criar uma espécie de enfrentamento. Mas, ora, onde já se viu em meio a um incêndio se jogar mais combustível? Pois foi exatamente isso que representou a irresponsável e precipitada atitude de, ao invés de criar mecanismos de diálogo com seu povo, possibilitar, através dos narizes vermelhos, a compreensão natural de uma grande palhaçada!

Imediatamente após terem avaliado o quão ridículo, impopular e barbeiro foi a tentativa de desempoderar a mobilização popular, a gestão cumpriu muito bem seu papel de autocrítica aplicando o esperado a meses: firmou o convênio de subvenção de recursos na ordem de R$80.000,00 com o HMLA.

Como resta configurado, não se tratou de boa vontade ou prazer por benevolência da gestão. Esta subvenção é resultado uno do poder popular organizado. Este talvez seja um grande estímulo para que o gestor municipal crie instrumentos objetivos de garantia da participação popular e controle social, de modo que suas lágrimas não tenham caído em vão e soltas ao vento não representem absolutamente nada, nada, nada, nada…

E neste exemplo, nesta luta santoantoniense, fica uma lição coletiva. Um alerta para gestores que insistem em se esquivar a ouvirem as vozes das ruas e acabam errando em suas táticas e métodos prestando, em momentos, verdadeiros desserviços; e um importante sinal à sociedade. Só há vitórias quando se luta!

Que venha a copa com seus mais de 28 bilhões destinados aos empreiteiros e à FiFa em detrimento da melhoria da qualidade dos serviços públicos!