Milhões de brasileiros recorrem a trabalhos extras para equilibrar as contas

Em meio ao aumento constante do custo de vida, mais de 50 milhões de brasileiros com 16 anos ou mais enfrentam a necessidade de buscar trabalhos extras para complementar a renda. Mesmo com empregos formais, muitos recorrem a bicos nos fins de semana, venda de produtos ou atividades autônomas fora do horário comercial, tudo para tentar fechar as contas no fim do mês.

De acordo com dados recentes do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo atual, fixado em pouco mais de R$ 1.500, está muito distante do valor considerado ideal para garantir o sustento básico de uma família de quatro pessoas: R$ 7.600. Esse valor leva em conta despesas com alimentação, moradia, transporte, saúde, educação, vestuário, higiene e lazer.

“Trabalhar mais de 12 horas por dia tem virado rotina. Vendo quentinhas à noite para complementar minha renda, porque só o emprego fixo não dá conta”, relatou Ana Paula, 34 anos, auxiliar de serviços gerais em Presidente Tancredo Neves (BA).

O fenômeno não é exclusivo das grandes cidades. Nos municípios do interior, onde os salários costumam ser ainda mais baixos e as oportunidades escassas, a realidade se repete — ou piora. Famílias recorrem à venda de bolos, produtos de beleza, roupas e serviços diversos para manter a alimentação, pagar aluguel e garantir o mínimo de dignidade.

Diferença entre o ideal e o real

O Dieese calcula mensalmente o valor do salário mínimo necessário com base no custo da cesta básica e outros itens fundamentais para a sobrevivência com qualidade. A discrepância entre o valor ideal e o real evidencia uma realidade de sobrecarga e insegurança financeira para milhões de trabalhadores.

Além disso, especialistas alertam para o risco de exaustão física e mental associado a essa jornada dupla ou tripla, que muitas vezes impede o convívio familiar, o descanso adequado e até o acesso à educação ou lazer.

Perspectivas

Embora o governo federal tenha sinalizado com políticas de valorização do salário mínimo, o ritmo de reajustes não acompanha a inflação real sentida na ponta pelo trabalhador, especialmente nos setores de alimentação, energia e aluguel.

Enquanto isso, o “jeitinho brasileiro” continua sendo uma estratégia de sobrevivência, mas também um sinal claro de desigualdade social e desequilíbrio econômico.


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