“O PT PERDEU A CREDIBILIDADE”, FALA FERNANDO HENRIQUE

Os últimos três infortúnios eleitorais do PSDB na corrida ao Planalto, em 2002, 2006 e 2010, tiveram como característica comum a ausência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso da campanha. Sem assumir a principal herança do partido, os dois mandatos de FHC, quando o Plano Real estabilizou a economia, o PSDB parecia se apresentar ao eleitor vazio de identidade. Nas eleições deste ano, os tucanos resolveram se reconciliar com o passado e Fernando Henrique regressou ao epicentro da campanha, tanto pelo lado da oposição como do governo, que vê neste retorno uma possível vantagem comparativa.
O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, além de aconselhar-se com FHC, insiste nas referências ao legado do ex-presidente e tem exaltado a importância do seu governo. “Os anos FHC começaram a reescrever a história do Brasil”, tem dito Aécio em recentes entrevistas. No programa “Roda Viva”, da TV Cultura, Aécio mencionou 19 vezes o nome do ex-presidente. Elogiou as privatizações dos setores de telecomunicações, de siderurgia e de aeronáutica e prometeu resgatar programas de FHC, como o Médico da Família. Reunido no Palácio da Alvorada na última semana, o staff da campanha de Dilma também resolveu trazer FHC para o centro do ringue eleitoral. Na esteira da troca de farpas entre FHC e Lula pela imprensa, os petistas apostam suas fichas na comparação entre os oito anos do governo FHC e os 12 anos da gestão Lula-Dilma. Para obter êxito, os petistas ancoram-se em pesquisas em poder do marqueteiro João Santana que apontariam um desgaste de FHC perante a população. Embora esteja de volta à campanha, FHC se diz afastado do cotidiano partidário. Essa condição permite que, em alguns momentos, o Fernando Henrique sociólogo se sobreponha ao empedernido tucano. Foi o que aconteceu em entrevista concedida na segunda-feira 21 à ISTOÉ na sede do instituto que carrega o seu nome. Aos 83 anos, mais de uma década depois de deixar o Planalto e sem qualquer pretensão política, o ex-presidente se comportou, durante as duas horas de entrevista, como uma figura pública capaz de fazer análises objetivas do momento do País. Fez duras críticas ao governo, mas também ao PSDB. Elogiou determinados aspectos das gestões Lula e Dilma Rousseff, enquanto relativizou alguns de seus próprios feitos. Ao discorrer sobre a economia, tratou com pouca relevância um dos alvos preferenciais da oposição, o crescimento pífio do PIB brasileiro.“O importante é a população viver melhor. Portugal não tem PIB nenhum e é mais Primeiro Mundo do que o Brasil”, disse. FHC também admitiu pela primeira vez a desunião do PSDB nas últimas disputas presidenciais, classificando de “grave problema”, algo que, segundo ele, foi superado no pleito deste ano. “O PSDB uniu todo”, afirmou. Na entrevista, o ex-presidente ainda confessou que há dois anos não acreditava no triunfo dos tucanos nas eleições presidenciais. Porém, o cenário, na avaliação de FHC, alterou-se substancialmente de lá para cá. Hoje ele considera provável a vitória de Aécio. A mudança de compreensão deriva, segundo ele, de um mal-estar no País, de uma fadiga em relação ao governo, da piora da economia, da falta de confiança do empresariado e da perda de credibilidade do PT, arranhado pelo mensalão. Na campanha, o presidente de honra do PSDB prevê obstáculos adicionais para Dilma pelo fato de ela, em sua visão, não falar com o País. (BN)

Última atualização (Dom, 27 de Julho de 2014 16:47)