Pesquisa traça o comportamento sexual do brasileiro: primeira transa aos 18 anos e dez parceiros na vida

Pandemia trouxe mais ingredientes: sexo virtual e consumo de pornografia. Contudo, esse novo comportamento pode levar a dificuldades na hora de se relacionar com outra pessoa.

Com quantos anos você teve a sua primeira relação sexual? E quantos parceiros você já teve ao longo da vida? Os brasileiros fazem sexo pela primeira vez aos 18 anos e, em média, têm até 10 parceiros durante a vida.

Os dados fazem parte de um estudo recente, feito entre 2021 e 2022, que envolveu 45 países e 82 mil pessoas, o International Sex Survey. Desse total, 3.650 eram brasileiros, com idade média de 45 anos.

A pesquisa também revelou que quase 100% dos brasileiros respondentes já se masturbaram ao menos uma vez na vida e que 81% já fizeram sexo com um parceiro ou parceira casual.

“Os brasileiros, em geral, parecem ter uma vida sexual mais aberta. Eles também estão mais satisfeitos com a vida sexual. Como a pesquisa é anônima, as pessoas se sentem mais confortáveis para falar”
— Marco Scanavino, psiquiatra e professor do departamento de psiquiatria do Western University, no Canadá, e responsável pelo braço do estudo Internacional Sex Survey no Brasil.

Scanavino aponta outro ponto interessante levantado pelo estudo, a orientação sexual:

  • 66% se identificavam como heterossexual;
  • 13% como gay, lésbica ou homossexual;
  • 9% como bissexual;
  • 6% como heteroflexível (tem curiosidade por explorar esporadicamente a relação com alguém do mesmo sexo);
  • 3% como assexual ou não saber;
  • 2% como panssexual;
  • 1% como homoflexível (tem curiosidade por explorar esporadicamente a relação com alguém do outro sexo).

    “Lembro que participei de um estudo no começo dos anos 2000 que tínhamos em torno de 10%, considerando homossexuais e bissexuais. Claro que a forma de pesquisar também mudou, agora temos o panssexual, homoflexível, heteroflexível, mas, em duas décadas, vemos que as pessoas estão mais abertas, com a sexualidade mais aberta”, completa o psiquiatra.

    É claro que a pesquisa, feita online, não pode ser generalizada para a totalidade da população brasileira. É uma amostra, que contou com a participação principalmente de moradores de metrópoles (51%) e cidades grandes (39%), com formação superior (87%). Entre os que responderam ao estudo, 64,3% se identificavam como homem, 34,3% como mulher, e 1,4% indicou outros gêneros.

    Apesar de ser uma amostra, esse é o perfil visto também por Carmita Abdo, psiquiatra e sexóloga referência no assunto e responsável por grandes estudos sobre sexualidade no país:

    “Percebemos uma popularização na orientação sexual. De repente, as pessoas estão contando suas bagagens, preferências. Elas querem experimentar e usam o virtual para isso [resquícios da pandemia de Covid-19]. Elas saem do esquema ‘tradicional’, mesmo nas escolhas dos vídeos que vão assistir na internet e começam a aceitar essa diversidade como experiência pessoal”.

    Outra mudança notada pela sexóloga, que também é membro da Comissão Especializada em Sexualidade da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), foi a busca pelo sexo virtual.

    “Aquilo que era feito esporadicamente [consumo de pornografia e sexo virtual] passou a ser habitual. Como não havia, durante o isolamento de Covid-19, outras possibilidades de sexo tão diretas, o consumo se generalizou. As mulheres, que não aceitavam tão bem a pornografia, também tiveram mais acesso”, conta.

    ➡️ Segundo o International Sex Survey, os participantes brasileiros assistiram pornografia, em média, de 2 a 3 vezes por semana no último ano.

    No entanto, esse novo comportamento traz também problemas e dificuldades na hora de se relacionar com outra pessoa. Além disso, a iniciação sexual também acaba sendo prejudicada, já que os mais jovens ficam se comparando com o que assistem nos filmes pornôs e isso não é saudável.

    “À medida em que o indivíduo faz o sexo virtual, principalmente masturbatório, a composição [relação] com o outro fica prejudicada. Eu me excito com o próprio estímulo que eu provoco, eu sei onde me tocar, a frequência, ritmo, velocidade. Quando estou com o outro, eu preciso passar o que eu gosto. Mas aí é que está a questão: para que eu vou compor com alguém se é mais fácil me masturbar?”, reflete a sexóloga.

    Bora conversar?

    Durante muito tempo, a masturbação foi vista como uma prática imoral e suja. Contudo, ela é essencial para que possamos conhecer o nosso corpo. E aí é que entra o diálogo entre os pares. Você sabe o que gosta e como gosta, mas não pode partir da premissa que o outro também vai saber.

    “Fazendo isso, você fica na dependência da parceria. A partir do momento que você se apropria do seu corpo, você pode explicar para o outro como funciona e ter mais prazer”, esclarece Carmita.

    Um estudo feito pela MindMiners, empresa de tecnologia especializada em pesquisa digital, mostrou que quase 40% das pessoas afirmaram que já fingiram o orgasmo. O número sobe entre as mulheres: 54%.

    E é por isso que é tão importante conversar, ter uma comunicação aberta, descontraída, para definir os arranjos e combinados que serão confortáveis para os dois.

    Marina Vasconcellos, psicóloga e terapeuta de casal, lembra que o ato sexual é a coisa mais profunda em uma relação entre duas pessoas, a maior intimidade que existe.

    “Se você não conversa, não tem intimidade, o sexo vai ser prejudicado. O diálogo é primordial porque o que é óbvio para mim pode não ser para você. A comunicação é 95% da relação”.

    Sexo não é só penetração

    A penetração é só uma das formas de se obter prazer no contato íntimo.

    “A relação sexual é todo e qualquer contato físico que desperte prazer sexual entre as pessoas e envolve toques, carícias sensuais, a masturbação mútua”, explica Margareth dos Reis, sexóloga e doutora em Ciências pela USP.

    E esqueça o termo “preliminares”. Segundo Carmita, é um nome ruim, como se fosse anteceder ao ato sexual, mas o sexo oral é sexo, masturbação é sexo. Você pode ficar horas “apenas” nas carícias, sem a penetração em si e, se tiver bom para todos, está tudo bem.

    Portal G1/ Saúde