ROBÔ BAIANO DE R$ 18 MILHÕES VAI FAZER BUSCA INÉDITA NA ÁREA DO PRÉ-SAL

o rastro das demandas da indústria moderna, Salvador inaugura hoje o Instituto Brasileiro de Robótica (BIR), uma empreitada de R$ 18 milhões voltada para o desenvolvimento de robôs com inteligência artificial em cooperação com empresas. O primeiro projeto deve aprimorar um tipo já existente, o robô AUV (Veículo Subaquático Autônomo), que servirá para pesquisar, principalmente, campos do pré-sal de profundidade inalcançável por humanos. O robô baiano, cuja pesquisa vai custar R$ 30 milhões, deverá ser desenvolvido ao longo dos próximos quatro anos e é fruto de uma parceria entre o Senai/Cimatec e o Centro Alemão de Pesquisa para Inteligência Artificial (DFKI), sediado em Bremen – o maior do mundo em número de pesquisadores e de recursos do setor. Um terço do aporte será do governo federal, por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Outros R$ 10 milhões serão custeados por uma empresa privada de nome ainda não divulgado. “O restante será em contrapartida econômica do Senai, em recursos não-financeiros como pessoal, maquinário e estrutura”, explica o diretor do Senai/Cimatec, Daniel Mota.

“Vamos inovar não só como o primeiro AUV construído no Brasil. Construir um robô capaz de mergulhar até 4 mil metros é a meta. Nenhuma empresa está fazendo a mesma pesquisa, então este será o mais avançado do mundo”, diz Mota.
 Um equipamento semelhante, embora operado por técnicos na superfície, foi usado nas buscas pela caixa-preta do avião da Air France que caiu no trajeto Rio de Janeiro-Paris, em maio de 2009.
diferencial “Hoje o mais usado (robô) é o operado remotamente. Mas o AUV é superior em tudo: tem inteligência para decidir onde vai, por onde volta, que caminho vai fazer, que ajustes realizar e, embora possa custar mais, não necessita de operadores”, explica Mota. Sem a interferência humana, a tendência é que as operações sejam menos suscetíveis a erros e de custo mais baixo, de acordo com o diretor.
Top 10
“É uma meta desafiadora, mas acho que, da forma como começamos, tanto na relação com os parceiros, quanto no atendimento de demandas da indústria, a meta de estar entre os dez melhores institutos de robótica do mundo é possível”, afirma Mota.
O brasileiro Patrick Paranhos, que trabalha há quatro anos no instituto alemão parceiro, explica que o projeto será desenvolvido por partes. 
“Vamos chegar primeiro em um produto de águas rasas, para depois desenvolver a capacidade de prospectar mais fundo. Em quatro anos, pretendemos disponibilizar a tecnologia comercialmente; em oito, queremos chegar a um AUV pronto para o mercado e para o pré-sal”, diz.
Outros projetos estão nos planos futuros do instituto, de acordo com o diretor do Senai/Cimatec. “Hoje, a gente tem diversas demandas, seja de melhorias de produto, como o caso do AUV, seja para desenvolver robôs para outros setores da indústria”, diz.
Troca
“Do lado de cá, ganhamos a tecnologia de um dos mais avançados centros de pesquisa em robótica”, diz Mota. Do lado alemão, existe a chance de dar seguimento a fases da pesquisa impossíveis de se realizar no Mar do Norte, único pedaço de litoral do país, que é raso demais para possibilitar testes de precisão. “Lá, só podemos fazer a pesquisa básica, já que a parte mais funda do mar chega a 400 metros”, diz o diretor do centro alemão, professor doutor Frank Kirchner.
OUTRAS APOSTAS DO BIR
Agroindústria: Trator com chip que faz sozinho o trajeto de plantio e colheita. O trator é autônomo, mas tem supervisão humana
Automobilística: Carros que dirigem sozinhos e tecnologias como os sensores que detectam a necessidade de frenagem, evitando acidentes como atropelamentos e batidas
Logística: Desenvolvimento de VANTS (pequenos aviões, tipo um drone) para todo tipo de monitoramento: segurança, engarrafamentos, fotografia agropecuária, entre outros
Saúde: Desenvolver exoesqueletos (próteses), braços e mãos biônicas, além de robôs que auxiliem médicos nas cirurgias
Energia: Robô para inspecionar  linhas de alta tensão, operação que hoje é feita por helicóptero a custos altíssimos
Cada vez mais indústria substitui pessoas por robôs
O Instituto Brasileiro de Robótica aparece em um cenário conveniente para a automação. Segundo um estudo, divulgado na segunda-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), 65% das empresas  brasileiras enfrentam problemas em encontrar mão de obra especializada. 
De acordo com os dados, o investimento em maquinário que substitui pessoal está em crescimento, e já é a solução encontrada por 24% das empresas este ano, contra 23% em 2011, para driblar a escassez de gente.
“Muitas operações têm que contar com a experiência de quem opera. E em campos específicos fica difícil encontrar profissionais. Fora isso, quando a atividade é muito específica, perde-se a subjetividade necessária”, diz Mota.
Os custos de operação e os riscos que demandam a mão de obra humana também são fatores que impulsionam a indústria para a inteligência artificial, de acordo com Daniel.  A tendência é que se tenha uma operação menos suscetível a erro. O custo de aquisção será mais alto, mas ele vai ter um custo menor de operação, porque não terá que ter gente operando. 
Ainda sem previsão de preço, o equipamento poderá ser usado para diversos fins: “Além do robô subaquático ser usado para pesquisas do pré-sal, poderá inspecionar dutos, equipamentos, cascos de navio”, diz Mota. (Correio/Foto: Marina Silva)