SUICÍDIO: POR QUE CHEGAR A ESSE PONTO?

Esta semana começou triste para os fãs de Champignon, que de acordo com as investigações policiais, teria cometido suicídio. Na madrugada de segunda-feira (09), o ex-baixista da banda Charlie Brown Jr. foi encontrado morto com um tiro na boca em seu apartamento, no Morumbi, zona sul de São Paulo.

Infelizmente o ato não é tão esporádico quanto parece e merece atenção. A Organização Mundial de Saúde estima que, em 2020, aproximadamente 1,53 milhões de pessoas no mundo morrerão por suicídio e, de acordo com um levantamento feito pela Unicamp, 17 em 100 brasileiros pensam em tirar a própria vida.
Maila de Castro L. Neves, professora adjunta do Departamento de Saúde Mental da UFMG, revela que o suicídio representa uma das vinte maiores causas de morte no mundo para todas as idades e um importante problema de saúde pública. A cada ano cerca de um milhão de pessoas morrem por suicídio em todo o mundo.

“Sabemos que a maior parte das pessoas que se suicidam tem um diagnóstico psiquiátrico (mais de 95%), sendo os transtornos de humor, particularmente a depressão, o diagnóstico mais frequentemente associado ao ato”, completa. Além disso, a prevalência durante a vida da depressão é de 20% nas mulheres e 10% entre os homens.
O psiquiatra Dr. Marco Antônio Marcolin, PhD pela Universidade de Illinois, em Chicago, e autor do capítulo de Psiquiatria do livro “Medicina, Mitos & Verdades”, de Carla Leonel (Editora CIP), alerta que a família precisa procurar ajuda ao perceber qualquer comportamento suspeito de algum parente. Maila conta que esses sinais e sintomas são tristeza persistente, perda de prazer, isolamento social, insônia, fala desconexa ou agitação psicomotora.
“Não dá para fazer de conta que o problema não existe. Por sinal este é um jeito muito errado de lidar com a situação. A família deve procurar um aconselhamento psicológico imediatamente. Se a pessoa sofre de depressão severa, por exemplo, o primeiro passo é curar o problema”, orienta o psiquiatra. “Quando a tentativa de suicídio é decorrente de sobrecarga cultural, ou seja, a pessoa é cobrada a ter determinados comportamentos para satisfazer aos outros, o mais correto seria reduzir o nível de exigência”, orienta.
São diversos os motivos que levam uma pessoa a cometer suicídio. Além da depressão severa, o psiquiatra enumera fatores como bipolaridade, transtornos antissociais e alimentares, esquizofrenia e ansiedade causada por pânicos ou situações pós-traumáticas. Entre os pacientes deprimidos, o grupo de maior risco tem como pontos principais ser do sexo masculino, sofrer de depressão grave, ter história de tentativas prévias de suicídio, ter sido hospitalizado anteriormente e ter problemas com uso de drogas.
Dr. Marcolin diz que o comportamento suicida pode ocorrer em qualquer momento da vida. É raro encontrar casos em crianças menores de cinco anos. Entre os idosos, o suicídio acontece quando eles se sentem um fardo na vida de seus familiares.
“Raramente um suicídio acontece entre pessoas sem nenhuma patologia diagnosticável, a menos que a vítima tenha interesse em se livrar de um determinado martírio grave ou cometa o suicídio coletivo”, comenta Dr. Marco Antônio. “O fato é que cerca de 25% das pessoas que tentam suicídio e não conseguem vão tentar mais uma vez. E diante de uma tentativa mal sucedida a pessoa se sente envergonhada e exposta.
A professora adjunta do Departamento de Saúde Mental da UFMG explica ainda que o impacto psicológico do suicídio em uma família e na sociedade é intangível, suas consequências indiretas podem atingir um grande número de pessoas e por um longo período de tempo. Para cada morte por suicídio um número imprevisível de familiares e amigos têm suas vidas devastadas, emocional, social e economicamente.
Desse modo, os familiares e amigos não devem procurar causas ou culpados, mas, sim, ajuda especializada. “Pacientes que apresentam pensamentos de acabar com a própria vida estão em grande sofrimento e esse comportamento se enquadra numa urgência médica. As doenças psiquiátricas são um fator de risco conhecido e seu tratamento adequado é um dos pilares da prevenção do suicídio”, diz Maila.