Suíço que mora em Piraí do Norte e é visto como principal “salvador” das florestas no Brasil, recebe desafio de reflorestar o deserto na Arábia Saudita

Morando no Brasil há mais de 30 anos, o suíço Ernst Götsch tornou-se figura conhecida entre agrônomos, profissionais da terra e principalmente para quem acredita em uma cultura sustentável. Chamado de “mago da floresta”, “criador das águas” e até de “gringo doido”, ele vem disseminando a agricultura sintrópica –uma espécie de agricultura agroflorestal – como uma forma de resgatar áreas degradadas. Já fez isso com maestria na sua fazenda em Piraí do Norte, zona cacaueira do sul da Bahia, em 350 hectares de terra. Agora ele está pronto para encarar o grande sonho: reflorestar o deserto.

Götsch ganhou uma concorrência e deve ir para a Arábia Saudita. Ele está entre os 15 cientistas escolhidos para a missão. Os detalhes da negociação ainda estão sob sigilo, porque o contrato ainda não foi assinado. Mas já se sabe que os participantes devem pegar o avião em janeiro próximo. “Imagine o tamanho do desafio. É um dos lugares com menor precipitação de água do mundo”, conta o cientista suíço com a animação de um garoto de 12 anos que está prestes a partir para a Disneylândia.

Quando Göesch resolveu mudar para o Brasil, em 1984, o primeiro passo foi usar o dinheiro que trazia para comprar uma fazenda – que se chamava Fugidos da Terra Seca – e reflorestá-la, seguindo teorias muito próprias. Vale explicar aqui que ele nunca frequentou uma faculdade. “Fui expulso três vezes porque não concordavam com a minha filosofia”, revela. Mas não o confunda com um agricultor simples, apesar de até ser na aparência, pois se trata de homem que estudou muito e testou tudo que viu no campo da agronomia.

Enquanto o mundo discute técnicas mais sustentáveis de agricultura, Göesch ensina a milhares de pessoas que todos os ser vivos, mesmo os micro-organismos, são importantes na terra. É a sincronia entre eles que permite o cultivo sem pragas e sem pesticidas e fungicidas. Göesch já deu aula no Embrapa, consultoria na Natura, em Singapura, Costa Rica e em várias fazendas de cacau– uma delas inclusive do Movimento Sem Terra, que conseguiu recuperar a área invadida degradada com as técnicas de Göesch. Durante dois anos, ele participou do Centro de Formação de Agricultura Sintrópica do Rio de Janeiro, com sede na fazenda de Passini, que virou um discípulo dele. Atualmente Passini está em Puglia, na Itália. Foi chamado para lá porque as oliveiras do local estão secando e o proprietário quer resolver o problema com a agricultura sintrópica. “Ninguém acredita, mas Göesch planta tudo junto e a técnica dá certo”. Segundo Göesch é mais uma questão de filosofia de vida. “Quando existe abundância, a paz reina na natureza e todos colaboram”, afirma.

Fonte: istoÉ