VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA A MULHER

Comentando o “Se eu fosse você”

A questão da semana é o caso da mulher que é estuprada pelo marido. A violência sexual abrange um espectro bastante amplo, que vai do assédio sexual à exploração sexual, passando pelo estupro conjugal. Ao ler o relato da internauta é impossível não nos perguntarmos: Por que um homem se sente com direito de estuprar uma mulher, ainda que ela seja sua própria esposa?
Essa violência tem uma longa história. Quando o sistema patriarcal se instalou, há cinco mil anos, e a sociedade de parceria entre homens e mulheres cedeu lugar à dominação masculina, a mulher passou a ser uma mercadoria valiosa. Rapto seguido de estupro foi o método mais usado de adquiri-la. Desde então, ocorrem estupros em toda parte.

O estupro coletivo, autorizado na Idade Média (séculos 5 ao 15) e mesmo depois, é um dos exemplos. Os jovens se reuniam em associação. Era um bando institucionalizado que saía pelas ruas estuprando as moças. Havia conselhos da melhor forma de praticar um estupro “Com uma mão levante a sua roupa e, em seguida, encaixe o membro ereto/Em seu sexo. Deixe-a gemer e gritar… Pressione seu corpo contra o seu e satisfaça os seus desejos com ela”.
Não há dúvida de que um grande número de mulheres teme o estupro. Um estudo, na França, com uma amostragem de 148 mulheres vítimas de violência no casal que foram objeto de decisão judicial, 68% das vítimas interrogadas relatavam ter sofrido, além de pancadas e ferimentos, violência sexuais conjugais, e as mulheres sexualmente agredidas apresentavam, significativamente, mais sintomas psicológicos pós-traumáticos que as que haviam sofrido apenas violência física sem componente sexual. No Brasil, a cada ano, 527 mil pessoas são estupradas. A maioria das vítimas é mulher, sendo que 70% são crianças ou adolescentes. Mais de 92% dos agressores são homens.
Os estupros são raros nas sociedades em que a relação entre os sexos tende à igualdade, as mulheres são respeitadas e desempenham importante papel nas decisões coletivas. Homens e mulheres têm as mesmas necessidades emocionais, mas o ideal masculino das sociedades patriarcais – força, sucesso, poder – não permite aos homens satisfazer essas necessidades. Estudos mostram que os esforços exigidos deles para se adequar ao ideal masculino provocam angústia, medo do fracasso e comportamentos compensatórios potencialmente perigosos.
Contudo, as mentalidades estão mudando. Muitos homens já compreenderam que a virilidade tradicional é bastante arriscada e cada vez mais aceitam que atitudes e comportamentos sempre rotulados como femininos são necessários para o desenvolvimento de seres humanos.
Tanto que numa pesquisa feita por uma revista americana com 28 mil leitores sobre masculinidade, a maioria deles respondeu que desejavam ser mais calorosos, mais doces, mais amantes e que desprezavam a agressividade, a competição e as conquistas sexuais. Ao que tudo indica, o fim da violência sexual está diretamente relacionado ao fim da ideologia de dominação e ao retorno da relação de parceria entre homens e mulheres.