Coluna. Apenas uma menina

sensive
Foto: Reprodução

Escirto por Luzitânia Silva

Olhos rígidos fitavam o horizonte. O rosto pálido não mais lembrava a alegria de algumas horas anteriores. O tio… O convite… A casa na árvore… O bosque… A água doce… Motivos de júbilo se transformaram em tempestade com direito a raios e trovões de maneira brusca.

A dor, o choro, a inquietação e a surpresa tornaram rapidamente a vida da menina em martírio. A ferida jamais a deixaria, no máximo se transformaria numa cicatriz gigantesca. Um fardo que para sua pouca idade dificilmente ela conseguiria carregar.

– Vamos passear? – disse o tio, o mais querido dentre todos.

– Para onde? – perguntou a garota com olhos radiantes.

– Vou te mostrar uma casa na árvore que eu brincava quando criança.

– Sério, tio? – surpresa, o abraçou com vontade, como a moleca que era.

– Seríssimo, meu doce! Lá tem um rio incrível, dá até pra ver peixinhos. A água é bem límpida.

Feliz, ela pulou em suas costas e nem falaram com outro alguém a respeito desse passeio aparentemente fantástico. Ele sorriu com sua boca cheia de dentes, porém de supetão o mundo dela pareceu escurecer, embora fosse dia e o sol brilhasse forte naquele domingo de verão.

Ela ainda não havia chegado a virar uma flor cheia de grandes pétalas. Era um botãozinho de rosa crescendo com viço até um pássaro cruel tomar sua pureza. Era um anjo que não deixou de ser angelical, entretanto não mais via o mundo com os mesmos olhos. 

Aqueles olhos sapecas, doces, alegres e gentis se tornaram turvos, melancólicos, chorosos, mesmo as lágrimas não caindo.  Seu coração estava destroçado e ela não sabia o que fazer. Era apenas uma menininha de oito anos amedrontada, sentindo pouco valor, com nojo, repulsa, vergonha e culpa pelo ocorrido.

Logo ele, seu tio, seu melhor amigo até então, seu exemplo, sua fortaleza, seu protetor, abusou da confiança e puerilidade de alguém que só queria brincar e ser feliz como de fato uma criança merece e precisa.

 

Importante!

Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ocorrem no Brasil, por ano, cerca de 100 mil casos de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Mas menos de 20% desses casos chegam ao conhecimento das pessoas encarregadas de tomar providências. O pior de tudo é que quem mais deveria proteger a criança ou adolescente acaba sendo o abusador.

Denunciar é indispensável para proteger nossas crianças e adolescentes desse mal.

PTN NEWS