INEVITÁVEL!/?

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Por. Luzitânia Silva

Eles eram perfeitos. Nenhum casal parecia se dar tão bem. Nenhum poderia se amar tanto. Eram juntos, a inspiração para qualquer poeta desestimulado e com crise de criatividade. Eram juntos a tampa e a panela, a laranja inteira, as almas-gêmeas. Perfeição era uma palavra rasa perto da imensidão do amor de ambos, mas eles pararam de enxergar isso e passaram a ver o insignificante.

__ Já estou indo – disse ele, pegando suas malas.

__ Você quer assim, então vai – resmungou ela.

Não deram um beijo no rosto, um aperto de mão singelo ou algo do tipo. Ficaram apenas a se olhar de esguelha, sem entender o porquê de tudo estar terminando daquela forma, até ele dar as costas e sair e ela ficar atônita, sem nem pestanejar.

Juliano e Simone eram casados há quinze anos, tinham uma filha de três anos e um filho de dez, e foram muito felizes, porém uma crise, que não deram ligança a princípio, se instalou e com isso, nunca mais foram os mesmos.

Há três anos, quando a crise surgiu, juntamente com o nascimento de Melissa, pensaram em separação. Refletindo sobre os filhos, a sociedade e solidão, resolveram a contra gosto, aguentar mais um pouco e engolir a tristeza, o ego e descontentamento. Hoje, pensam que fizeram tudo errado. A separação era inevitável. Foram bobos pensando no adiamento. No fim das contas, só ficaram ainda mais infelizes e isso surtiu efeito no relacionamento com outras pessoas.

Juliano havia se apaixonado por uma mulher mais nova e atraente. A moça de dezoito anos de idade arrancava suspiros dele. Simone, se sentindo sozinha e triste pela situação, se consolou beijando Gilmar, um amigo de infância. Nenhum estava bem. Ambos desgastados colocavam suas felicidades nas mãos de outros e isso não ajudava em nada. O fim era palpável e inadiável.

Ele, que nunca achava tempo pra sair com a família, comumente rodeava-se de amigos, entre risos e bebedeiras.

Ela se desgastava com suas atribuições de dona de casa, no entanto, quando dispunha de tempo, saía e aproveitava o momento, mesmo pensando nele. Nenhum procurou ajuda, apoio ou diálogo de quem quer que fosse.

Frequentemente discutiam, pronunciando palavras nada amigáveis, cujo poder era letal. Enxergavam os defeitos ínfimos do outro em detrimento dos acertos. Estavam no fundo do poço e não viam outra saída, a não ser a separação. Não queriam lutar. Pensavam no desgaste emocional, físico e na insatisfatoriedade. Eles previam o término sem se dar a chance do recomeço. Fizeram tudo errado, acreditando que estavam fadados ao insucesso.

_ Te amo – falou ela, ao observá-lo partir, escondida pelas cortinas brancas de seda da janela do seu quarto agora solitário – Sentirei sua falta.